Diagnósticos na Psicoterapia.
- Angélica Gadelha
- 15 de mar.
- 2 min de leitura

O psiquiatra e historiador Henri Ellenberger, no livro "A descoberta do Inconsciente", explora sobre as raízes e os desenvolvimentos da psiquiatria dinâmica, berço da psicoterapia. Na sua pesquisa, apresenta um minucioso inventário de como as épocas e sociedades entenderam e responderam aos fenômenos de sofrimento e de irracionalidade, de rompantes emocionais e de mistério que hoje são identificados como sintomas psicopatológicos.
Destaco para nossa reflexão o seguinte trecho:
Por muitos séculos os manuais de medicina contiveram descrições de dois estados que estão amplamente esquecidos hoje: a saudades de casa e o mal do amor. A primeira, também chamada de nostalgia, era sentida pelos soldados ou por outros indivíduos que haviam deixado os seus países. Eles sentiam falta de casa, ficavam sonhando acordado com isso incessantemente, não conseguiam se concentrar em mais nada e, com frequência, chegavam a morrer se não regressassem. O mal do amor era observado em jovens, homens e mulheres, desesperadamente apaixonados. Desvaneciam lentamente e morriam, a menos que se os reunissem com o objeto de seu amor - que, com frequência, era mantido em segredo. A psiquiatria do século XIX excluiu de sua nosologia esses dois estados e não deu importância aos desejos frustrados como um fator psicogênico. A psiquiatria dinâmica voltou a enfatizar o seu significado, que por vezes a medicina primitiva havia compreendido bem (Ellenberger, 2023, p.38-39).
Há não muito tempo, esses estados de espírito tinham seu lugar na descrição psicopatológica. "Saudade de casa" e "mal do amor" possuíam um peso explicativo tão válido quanto hoje possuem classificações como "TDAH" ou "ansiedade generalizada". A importância desse destaque não é apenas poética.
No processo psicoterapêutico, compreender o sintoma dentro de uma perspectiva dinâmica (por exemplo, "a pessoa sofre do mal do amor") tem um valor curativo muito maior do que uma abordagem meramente nosográfica ("ela está com depressão"). A "depressão", por si só, não diz nada sobre o adoecimento, tampouco sobre os caminhos possíveis de tratamento.
O sintoma possui sentido, motivo e finalidade. Ele aponta o caminho da própria cura, uma vez que (voltando ao exemplo) é muito mais viável tratar uma pessoa com frustrações românticas (compreendendo o sentido do sofrimento) do que alguém diagnosticado com uma doença de causas indefinidas (afinal, de onde veio essa depressão?).
A psiquiatria dinâmica resgata um aspecto da psicopatologia que se perdeu na simples descrição e classificação de sintomas: a história por trás do sofrimento, o sentido do adoecimento. É nessa direção que caminha a investigação psicológica. Somente assim podemos construir novos caminhos para a solução saudável de um conflito psicológico.
コメント