"Sofrer não é doença"
- Angélica Gadelha
- 13 de mar.
- 2 min de leitura

No seu livro "A prática da psicoterapia", Jung explica:
"O fato de ter complexos não implica uma neurose, pois normalmente são os complexos que deflagram o acontecimento psíquico, e o seu estado dolorido não é sinal de distúrbio patológico. Sofrer não é doença, mas o polo oposto, normal da felicidade. Um complexo só se torna patológico quando achamos que não o temos" (JUNG, OC V.16/1 §179).
Os complexos ideoafetivos são as unidades estruturantes da psique, e a sua abordagem, desde os primeiros estudos psiquiátricos de Jung, flexibiliza a concepção de doença, uma vez que todos somos constituídos por complexos. E em todos nós os complexos podem assumir um caráter de autonomia - independente do controle da consciência.
Ter complexos, portanto, não significa doença, nem tampouco quando somos por eles atravessados de forma que não entendemos, pois essa é a própria qualidade dos conteúdos inconscientes - não termos consciência deles.
Normalmente, o que deflagra um adoecimento é a negação. Aquilo que é negado por nós não deixa de existir pela ignorância ou indiferença, pelo contrário, adquire mais força e independência, atuando em nossas vidas de forma incontrolável.
O segundo ponto brilhante desse trecho, e que remete muito a prática clínica, é a recordação de que é normal que muitos desses conteúdos que se constelam em nós sejam sofríveis. E isso não é um problema.
Há aspectos da vida que são de fato dolorosas - a doença, a morte, a perda, a falência, a ruptura, etc - e tantas outras situações que tipicamente participam das etapas da vida. Por isso, sobre a prática psicoterápica, Jung nos traz o lembrete: muitas vez é mais sensato e acolhedor se desobrigar de uma felicidade irreal e estruturar uma atitude que suporte a experiência como ela é.
Assim, para finalizar lembremos que: "eis por que o objetivo mais nobre da psicoterapia não é colocar o paciente num estado impossível de felicidade, mas sim possibilitar que adquira firmeza e paciência filosóficas para suportar o sofrimento" (JUNG, V.16/1, §185).
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